Nota semanal do Bispo de Beja
Pobreza, família e politicas sociais
1. Pobreza e politicas sociais
Diariamente se ouve falar do aumento do número de pobres e somos confrontados com novo tipo de pobreza, que afeta pessoas e famílias que até há pouco julgávamos serem abastadas. Aumenta o número de desempregados e criam-se cantinas sociais, para que ninguém passe fome, sem contudo se conseguir novos postos de trabalho dignamente remunerados ou resolver o problema de dívidas acumuladas, algumas afetadas à compra da habitação, de eletrodomésticos ou de meios de transporte e de comunicação.
Por outro lado, aparecem casos de pais desesperados que matam os filhos e de famílias numerosas a quem tiram os filhos para os institucionalizar, mesmo que contra a vontade dos progenitores, como se as instituições sociais fossem a solução dos problemas educativos e financeiros da sociedade. Também constato que os estabelecimentos prisionais estão cheios com pessoas de todas as idades e muitos prevaricadores continuam à solta.
Ao constatar esta realidade que traz deprimida muita gente, causa sofrimento evitável e desnorte da sociedade, pergunto-me se muitos destes atropelos à liberdade e dignidade da pessoa e da vida humana não seriam evitáveis com outro sistema educativo e outras políticas. Ao mesmo tempo interrogo-me como posso eu enquanto cidadão e a Igreja a que pertenço contribuir para melhorar a situação e aliviar o sofrimento, sabendo que todos somos corresponsáveis na construção do bem comum da sociedade em que vivemos, embora não dependa tudo de nós. A maior responsabilidade é daqueles a quem elegemos para o governo e para as autarquias e daqueles que eles nomeiam, para os diferentes órgãos sociais e administrativos, pois são eles que gerem os nossos impostos.
2. A educação e a família na solução da crise
Dirigindo-se aos movimentos pela vida da Itália, Bento XVI, na sua habitual oração do Angelus aos domingos, neste dia 3 de Fevereiro, apoiou a iniciativa da conferência episcopal italiana que aponta a vida e a família também como resposta eficaz de solução da crise atual. Reflito sobre estas afirmações e pergunto-me se não está aqui a causa e o remédio de muitos dos males presentes. E vou tentar exemplificar isso com alguns acontecimentos, correndo o perigo de ser injusto para com alguns dos intervenientes, pois estou consciente que o estado do doente já pode estar tão evoluído que não se cura com as terapias normais.
O afeto, a proximidade e o conhecimento das pessoas são importantes para ajudar no seu crescimento e integração social. Ora isso acontece de modo mais forte na família, embora o contrário também possa acontecer. Isto significa que é a família que deve merecer a atenção e o apoio das políticas sociais. Será isso que está a acontecer entre nós e na Europa?
Quando ouço falar da mãe desesperada que mata os seus filhos, porque lhos queriam retirar e institucionalizar ou daquela família numerosa que chora os filhos que lhe foram retirados, porque não teria condições económicas e de habitação para os educar, pergunto-me se as instituições poderão dar àquelas crianças o mesmo que uma família pobre faz, para além da crueldade de retirar a uma família os seus filhos e se, porventura, o apoio direto dado à família não seria mais barato e eficaz do que a institucionalização. Bem sabemos quanto custam as instituições de apoio às famílias e quantas não conseguem integrar as crianças que lhes são confiadas, sobretudo quando a justiça atua demasiado tarde!
Quando acontece algum crime nas famílias, a sociedade e a comunicação social apenas aponta para a crueldade dos acontecimentos. Poucos perguntam pelas suas causas, pelo sofrimento dos implicados e pelas omissões e medidas erradas por parte dos vizinhos e das instituições sociais, judiciais, políticas e de segurança.
Poderia alongar o número de casos. Mas todos os que conheço me convencem mais de que a família e os nossos sistemas educativos são o melhor garante do progresso integral da pessoa humano, da superação das crises e da coesão social. Sendo filho de uma família pobre e numerosa, tendo nascido e crescido nos primeiros anos de vida no tempo da grande crise da segunda guerra mundial, sei bem o que isso significa!
Por isso é aqui que devemos aplicar toda a nossa sabedoria e os meios de que dispomos, para que, não apenas de palavras, seja respeitada a dignidade fundamental e constitucional da pessoa humana e da família como célula da sociedade. Se isto funcionar bem, muitos problemas serão resolvidos, postos de trabalho criados e até recursos económicos poupados, para bem de todos nós.
† António Vitalino, Bispo de Beja
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