Comunicação de Encerramento da Formação Cáritas + J. Marcos, bispo de Beja
Aos participantes na Semana de Formação da
CÁRITAS PORTUGUESA
EM BEJA, 21-24/09/21
Ilustres Senhoras e Senhores, caros irmãos e irmãs:
1 – Ao terminarmos hoje esta Semana de Formação CÁRITAS realizada na cidade de Beja, devo dizer-vos da minha alegria em verificar que a afluência foi superior àquela que se esperava, e que os preletores trataram com densidade os temas que lhes foram confiados. Como sei disso? Como sabeis, estive cá no dia 21 e falei bastante ou, melhor, ouvi falar o Sr. D. José Traquina, muito bem impressionado com aquilo que aqui estava vendo e escutando. Por isso, dou os meus sinceros parabéns a todos, de modo muito especial aos organizadores da Cáritas Portuguesa e aos membros da Cáritas diocesana de Beja pela dedicação sem limites com que realizaram os trabalhos que permitiram o bom sucesso desta Semana de Formação que agora concluímos. Uma salva de palmas para todos!
2 – Quero depois registar aqui, ainda que brevemente, o bem imenso que diariamente realizais nas vossas dioceses e paróquias. Tantas Obras de Misericórdia, muitas das quais só de Deus conhecidas e que só por Ele serão recompensadas! Tanta dedicação a pessoas muitas vezes incapazes de corresponderem e que frequentemente não dizem sequer um obrigado! Quero agradecer-vos eu, em nome da Igreja nossa Mãe, o esforço que estais desenvolvendo para testemunhar a Caridade de Deus para connosco e para com o mundo.
Como sabeis, “só o amor é digno de fé”, como escreveu um dos maiores teólogos do século XX, Hans Urs von Balthasar. Assim, se é verdade que a Caridade é a virtude teologal aonde conduzem a Fé e a Esperança e a única que permanecerá, também é certo que ela, a Caridade divina, é o ponto de partida para a Vida Cristã. É a caridade concreta de Deus, o seu amor testemunhado por aqueles que n’Ele creem, que abre à fé os corações e os dispõe a escutar o anúncio do Evangelho. Por isso o Senhor Jesus enviou os discípulos, dois a dois, a pregar. Por isso vemos que os primeiros cristãos viviam unidos e tinham em comum também os bens materiais. Por isso também S. Lourenço, o diácono de Roma que guardava os tesouros da Igreja, se apresentou no tribunal com a multidão de pobres e miseráveis sustentados pelos cristãos.
3 – Certamente esperais ouvir de mim, bispo desta Diocese, uma palavra que, como fecho de abóbada, consolide os trabalhos destes dias. Penso que pode ser esta: como sabeis, hoje há no mundo muitíssimas instituições de solidariedade que fazem o mesmo que as instituições de caridade da Igreja. E há muitas circunstâncias em que a própria palavra Caridade foi despromovida e ridicularizada como caridadezinha, como jogo a que se dedicavam as senhoras ricas cujos maridos exploravam, nas fábricas, os pobres. Quem não se recorda daquelas manifestações dos tempos do 25 de abril em que se gritava “Justiça, sim! Caridade, não!” Convenhamos que nesses contextos não é fácil resistir á tentação de substituir a palavra Caridade por outras mais na moda, como Solidariedade.
De facto, para quem não tem fé, Solidariedade facilmente se toma por sinónimo de Caridade. Mas para nós cristãos não é assim. Solidariedade tem a ver com solidez, com a firmeza de alguém que se dispõe a estar junto de quem precisa para cuidar e ajudar. É um bom sentimento e uma ótima virtude humana, que nos leva a praticar o bem. Mas, para ser solidário, não é preciso ter fé em Deus. Basta ser humano. A Solidariedade começa no homem e acaba no homem.
A Caridade, a Cáritas, o Amor, é Deus. A Caridade tem em Deus a sua origem e a sua finalidade. “Deus é Amor”, lemos e relemos na primeira carta de S. João. Quem, contemplando Cristo recebe o Seu Espírito que testemunha ao nosso espírito que somos filhos adotivos de Deus, recebe, pela fé em Cristo, o dom de realizar as Suas mesmas obras. “Quem acredita em mim”, diz o Senhor Jesus, “fará também as obras que Eu faço, e fará obras maiores do que estas porque eu vou para o Pai”. As obras dos cristãos começam e acabam em Deus. Veem de Deus e Conduzem a Deus.
Ainda que sejam vistas como obras semelhantes ou iguais às de outros homens, na realidade são obras de Cristo. “Nisto conhecemos o amor: Jesus deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos”. Amar, para nós cristãos, é darmos a nossa vida pelos outros.
4 – Meus caros irmãos e irmãs: não vos envergonheis do Evangelho, não vos envergonheis de ser cristãos e trabalhadores nesta obra da CÁRITAS, da CARIDADE. Por meio dela se realiza a Pré-evangelização. Sabeis que a Igreja Católica é, em todo o mundo, a Instituição que mais obras de assistência criou e mantém? E que os dois e meio por cento de católicos da Índia criaram cerca de 50 por cento das Obras de Assistência que existem em todo aquele grande país?
A Igreja Católica é feita de homens e mulheres, mas é divina. Sejamos dignos, sejamos o menos indignos possível para que, dóceis ao Espírito Santo, descentrados de nós próprios e centrados em Cristo, demos d’Ele o bom testemunho de quem caminha no mundo, mas não vive do mundo.
Muito obrigado!
+ J. Marcos, bispo de Beja