QUARESMA – UM TEMPO DE REENCONTRO
Mais uma vez iniciamos a Quaresma, e relembramo-nos das palavras do Papa Francisco, ao referir que Deus nos guia pelo deserto em direção à liberdade: “Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei do Egito, de um lugar de escravidão”. (Ex 20,2)
A Quaresma é um tempo de conversão e de liberdade. Também nós trazemos cá dentro “certos” laços que devemos abandonar; Prova disso, referia Francisco, é “a falta de esperança, que nos leva a vaguear pela vida como se estivéssemos num deserto desolado, sem uma terra prometida para onde possamos caminhar juntos”. O deserto é o espaço no qual a nossa liberdade pode amadurecer e tornar-se uma decisão pessoal de não cair novamente na escravidão.
Um caminho concreto
Para que a nossa Quaresma seja concreta, o primeiro passo é querer ver a realidade, escutar o sofrimento e agir em conformidade (cf. Ex 3,7-8). “Também hoje chega ao céu o clamor de tantos irmãos e irmãs oprimidos. Perguntemo-nos: será que este sofrimento também nos afeta? Isso abala-nos? Isso comove-nos?
Hoje, são muitos os factores que nos afastam uns dos outros, negando a fraternidade que nos une desde o início, e cuja primeira consequência é que “o êxodo seja interrompido”. De outro modo, seria impossível explicar por que razão uma humanidade que atingiu tais níveis de desenvolvimento económico, científico, técnico e cultural, capazes de garantir a dignidade de todos, caminha na escuridão das desigualdades e dos conflitos.
Tempo de agir e parar
É tempo de agir, e durante a Quaresma, agir também significa parar. Pare em oração, para acolher a Palavra de Deus, e pare como o samaritano, diante do irmão ferido. O amor a Deus e ao próximo é só um amor. Parar diante da presença de Deus, na carne do próximo. Portanto, a oração, a esmola e o jejum não são três exercícios independentes, mas um único movimento de abertura e esvaziamento.
Para tomar decisões contra a corrente
A sinodalidade sugere que a Quaresma seja também um tempo de decisões comunitárias, de pequenas e grandes decisões que vão contra a corrente, capazes de mudar o quotidiano das pessoas e de um bairro: hábitos de compra, cuidado com a casa comum, inclusão dos desfavorecidos… tal como sugere D. Fernando Paiva, Bispo da diocese de Beja, “(…) aproveitar o tempo da Quaresma para dar o contributo pessoal aos outros, nomeadamente anciãos e migrantes, pessoas em situação de maior fragilidade e incrementar os apoios económicos e as iniciativas legislativas que permitam a estes nossos irmãos mais frágeis não ser excluídos, mas integrados e apoiados”
Boa viagem quaresmal!